Novo livro de Ismael Lima reflete sobre os campos de concentração da seca no Ceará
O
professor e filósofo Ismael Lima, autor de "Música e sofrimento: um
encontro entre Arthur Schopenhauer e Luiz Gonzaga", lançou no último mês
de agosto seu mais novo livro. Com o título "Necropolítica e precariedade
nos campos de concentração da seca no Ceará", Lima lança o olhar crítico
próprio da Filosofia sobre a história do horror que foram as experiências cearenses de confinamento de pessoas. Trata-se, portanto, de um texto filosófico e
histórico, cuja versão digital da publicação já se encontra disponível para
download gratuito no site da Editora Phillos Academy (BAIXE AQUI!).
Na
obra, o filósofo cearense reflete sobre a experiência de criação, implementação e
ampliação de campos de concentração no estado do Ceará, que tinha como
objetivo confinar e controlar os retirantes da seca durante três momentos de
longa estiagem na história do nosso estado: 1877, 1915 e 1932. O autor
busca compreender o fenômeno a partir do arcabouço
da bio-necropolítica e dos mecanismos de controle e de gerenciamento
dos corpos nos termos propostos pelo filósofo camaronês Achille Mbembe e atravessado
pelo pensamento político de nomes como Carl Schmitt, Walter Benjamin, Hannah
Arendt, Michel Foucault, Giorgio Agamben e Fábio Luís Franco.
A
realidade experienciada nos campos cearenses e conhecida a partir dos relatos
daqueles que sobreviveram ao horror do confinamento, especialmente os que
passaram pelo Campo do Patu, em Senador Pompeu, evidencia o nível de
precariedade à qual milhares de retirantes foram submetidos, oriunda da ação
dos mecanismos de captura e politização da existência humana próprios da
necropolítica, que determina o valor e o desvalor das vidas, separando-as, a
partir da racialização, em vidas que merecem viver e vidas que merecem morrer.
O
livro é resultado direto das pesquisas de mestrado de Ismael Lima durante sua
passagem pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de
São João del-Rei (UFSJ), em Minas Gerais. A publicação foi viabilizada com o
apoio do Programa Filosofia em Rede, do Instituto Trilhas, e conta com
recursos provenientes da Lei Complementar N.⁰ 195/2022, a Lei Paulo Gustavo
(Senador Pompeu), do Ministério da Cultura do Governo Federal.
O
professor Rogério Picoli (UFSJ), orientador de Lima durante o mestrado, comenta
que "o leitor encontrará nessas páginas um esforço sensível para oferecer
um enquadramento teórico-conceitual adequado para a especificidade da
experiência dos campos da seca: a ritualização do luto, a memória de corpos
matáveis e testemunhos de que estiveram por lá vidas invivíveis, vítimas da
ação deliberada de um Estado organizado em favor dos caprichos das
elites".
Segundo Ismael Lima, o lançamento da versão impressa do livro deve acontecer na segunda semana de novembro, dentro da programação do Festival Humaitá Rock e durante a preparação para a 42ª Caminhada da Seca, que faz memória às vítimas da seca e dos campos de concentração todos os anos. Além do município de Senador Pompeu, Lima adianta que já articula outros eventos de lançamento do livro para as cidades cearenses de Quixadá, Fortaleza e Juazeiro do Norte, e as cidades mineiras de São João del-Rei e Ouro Preto.
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